OBAMA E A ARTE DO POSSÍVEL
Novembro 08, 2012
J.J. Faria Santos
Poucas semanas depois da eleição de Barack Obama, Fareed Zakaria escrevia na edição Issues 2009 da Newsweek que o problema fundamental que continuaria a originar o desencadear de mais crises residia no facto da “actividade económica e social ser global, enquanto que o poder político é local”. Em consequência, defendia ele, os problemas galgavam as fronteiras, mas as soluções emperravam na ciosa preservação da soberania que os diversos governos privilegiavam. Zakaria previa o regresso da regulação, e evitava a armadilha de ter de optar entre os governos e os mercados. “A questão é como balancear os dois de forma a conseguir o crescimento, a inovação, a estabilidade e a equidade social”, escreveu. Não obstante, Zakaria professava a sua crença no fim da crise financeira, fundamentalmente por confiar na acção decisiva dos esforços combinados dos diversos governos. A justificação, no entender dele, residia no facto dos governos serem “mais poderosos que os mercados”. Ora aqui está uma asserção arrojada face ao que sabemos hoje, tendo em conta a percepção que por vezes temos que os governos de alguns países parecem estar reféns dos humores dos mercados. Porém, se observarmos a linha da raciocínio de Zakaria, apercebemo-nos que a falha poderá estar na divisão política que mina a possibilidade dos esforços concertados das diversas nações.
Como a América é um estado federal, ainda para mais com aquilo que o jornalista chama de “poder único de imprimir dinheiro”, foi possível a Obama, beneficiando da acção da Reserva Federal, apostar na definição de um programa de relançamento da economia que limitou os danos da crise e que parece ser capaz de colocar os Estados Unidos na pole position da recuperação. Que ele tenha sido capaz de implementar esta política em simultâneo com o reforço da regulamentação dos mercados financeiros, o combate activo ao terrorismo e os avanços na área social, enfrentando um corpo legislativo hostil até ao limite da demência, é um testemunho de que a arte do possível não tem necessariamente de sucumbir ao tacticismo inconsequente e ficar arredada de um patamar de decência.
A reeleição de Barack Obama marca também a condenação por parte dos eleitores daqueles que, na definição dos editores da New Yorker, em artigo em que endossavam o seu apoio ao incumbente, “parecem satisfeitos com um sistema em que um quarto de todos os rendimentos e quarenta por cento de toda a riqueza pertence a um por cento da população”. Romney, acrescentavam eles, “está entre aqueles que encaram o sucesso nos negócios como um sinal indiscutível de virtude moral”. Dois mandatos de Obama, defendem eles, “reforçarão o ideal da boa governança e uma visão social que tempera o individualismo com a preocupação com a comunidade”. No fundo aquilo que, acrescentaria eu, o “conservadorismo compassivo” de George W. Bush nunca foi capaz de alcançar.