BREVE PERFIL NA PENUMBRA I - O MORALISTA
Abril 10, 2011
J.J. Faria Santos
Há uma veemência no esbugalhar dos olhos que exprime a indignação da autoproclamada exemplaridade perante a alegada prevaricação alheia. Julga as acções dos outros com a radicalidade dos altos padrões que se atribui, sem se deter nas fraquezas da condição humana, nem se deixar condicionar pela caridade cristã, que diz praticar. A sua predisposição belicosa é alimentada pelas convicções inabaláveis. Há uma labareda de fanatismo no incêndio que lavra no seu rosto, quando embarca em diatribes encharcadas em prosápia e auto-suficiência. Envolve as suas proclamações e denúncias no celofane dos preceitos éticos, com o qual mascara as proclamações doutrinárias e a guerrilha ideológica. Será, decerto, insensível à recomendação explicitada em Eclesiástico 6, 2-3: "Não te entregues ao excesso da tua paixão, para não suceder que destrua a tua alma como um touro furioso, consuma as tuas folhas e apodreça os teus frutos e te deixe como uma árvore seca no deserto".