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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

3 DISCOS

Janeiro 20, 2020

J.J. Faria Santos

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Lana Del Rey parece ter alcançado o reconhecimento da crítica especializada, após anos de suspeitas de inconsistência e superficialidade, com o seu último trabalho: Norman fucking Rockwell. Nele prossegue a cartografia das emoções e das paisagens americanas (“You´re beautiful and I’m insane / We´re American made”, canta ela em Venice Bitch) e, sem perder o glamour e a sofisticação, confirma uma inflexão no sentido da autenticidade e do despojamento. Que se reflecte na desarmante franqueza das letras e no carrossel emocional que elas espelham. Na recensão crítica que fez para o New Musical Express, Rhian Daly notou uma evolução na sonoridade, de uma “pop tingida pelo hip-hop para uma folk boémia”, que conferiu ao álbum um pendor “intemporal”. A bad girl em modo starlet do êxito inaugural Video Games, com uma certa predilecção pelo drama e pelo fatalismo, transformou-se numa mulher que se permite acalentar esperança (Hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it é o nome da faixa que encerra o disco.)

 

FKA twigs, figura cimeira da música electrónica contemporânea, dá sequência em Magdalene (álbum inspirado na figura de Maria Madalena) ao seu estilo experimental, futurista e alienígena, ao mesmo tempo que desenha aproximações a estilos mais convencionais, como sucede nos temas sad day (há quem reconheça a influência de Kate Bush) e cellophane. Pungente e delicada, assertiva e agressiva, empolgante e operática, FKA twigs mais que uma cantora é uma experiência visual e sonora. Para escutar no silêncio contemplativo de uma sala de espectáculos ou na sala de estar insonorizada e à prova de bem-intencionadas mas inoportunas visitas. Aproximem-se dela. Como ela entoa em mary magdalene: “i can lift you higher / i do it like mary magdalene / i’m what you desire / come just a little bit closer / ‘til we colide”.

 

Volta e meia Camané esmera-se em dar-nos leituras (nem sempre ortodoxas) dos clássicos. Recordo com apreço um versão fado-western de Vendaval, tema celebrizado por Tony de Matos, na companhia dos Dead Combo. Em Aqui está-se sossegado, a meias com Mário Laginha, aproxima-se, mais uma vez, do sublime em Não venhas tarde (uma espécie de fado machista com um twist final carregado de insegurança) e em Com que voz. E também nas revisitações que faz a dois temas da dupla Manuela de Freitas/José Mário Branco: Ela tinha uma amiga e A guerra das rosas (um vertiginoso relato satírico dos desmandos conjugais). Como sempre, como dantes, Camané continua a brindar-nos com a excelência, neste caso com um cúmplice à sua altura.

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