O SILÊNCIO DAS TARDES DE DOMINGO NOS SUBÚRBIOS
Setembro 21, 2012
J.J. Faria Santos
Quando as famílias da cidade se encavalitam no seu utilitário e partem para o passeio domingueiro, envoltas numa algazarra que parece imitar a felicidade, arrastando na sua entontecida vertigem de celebração velhos cansados, jovens em fuga da descrença e crianças expectantes, resta o despojo jubiloso do silêncio.
Os que ficaram, os que desprezaram as expedições às catedrais de consumo ou os vaivéns monótonos à beira-mar no meio de autómatos que se parecem demasiadamente com humanos, abrem as portas e deixam entrar a claridade e o sol demasiado resistente do fim de Verão. Só os trinados dos pássaros preenchem a banda sonora do filme das suas vidas.
Vivemos num tempo que abomina o silêncio, que o confunde com angústia ou opressão; vivemos numa era que parece temer o embate com a meditação; vivemos numa sociedade em que a generalidade dos indivíduos receia o confronto consigo mesmo, a radical solidão da sua essência.
O silêncio das tardes de domingo nos subúrbios tem um travo de trégua e um perfil de aviso: é como se por gestos adivinhados (para não acordar o barulho) nos dissesse: este é um tempo de pausa para revigoramento, mas é preciso cautela para que não se eternize, sob pena de adquirir propriedades narcóticas e paralisantes. O mundo é ruído. Isto é apenas uma pausa. Não peças desculpa pela interrupção. Desfruta-a, porque a vida segue dentro de momentos.