A LADY E O MARCHAND
Agosto 26, 2012
J.J. Faria Santos
"Orgia" de Marta Cordeiro
Disse Betty Grafstein ao Expresso (Revista, 18/08/2012): “Muitas vezes chegamos ao médico com uma quantidade de desejos de transformação que o Zé quer em mim, mas o médico recusa várias”. Dir-se-á: o que há de tão estranho num transformista em querer transformar? E brincar aos deuses, numa enésima variação da relação criador/criatura, não se adequa à sua propensão para a megalomania? “Por vezes sinto-me como uma espécie de boneca ou marioneta nas mãos dele”, confessa a empresária, admitindo ainda que ele ”não sabe ser discreto e soft. Ele é excessivo”. A Lady surge assim como uma espécie de work in progress do marchand.
Peculiar figura do nosso pífio jet set , José Castelo Branco vaporiza a sua excentricidade com o perfume do escândalo, conjuga a ostentação desbragada com as juras de simplicidade e a ambiguidade do comportamento com declarações definitivas que o tempo se encarrega de desmentir. A sua suposta sofisticação derrapa numa heterodoxa noção de dress code; do mesmo modo, confunde muitas vezes frontalidade com má-criação, falha que nem a propensão para o burlesco redime. Kahlil Gibran escreveu que “um exagero é uma verdade que perdeu a calma”, porém, tal definição não se aplica a Castelo Branco, cujos exageros relevam do mais canhestro artificialismo e derrapam na vulgaridade.
Betty Grafstein diz ainda, na citada revista, que ele é um “perfeccionista” e que é por isso que quer que ela “tenha uma aparência perfeita”. Abstenho-me de tecer considerações acerca dos resultados práticos desse tão louvável desejo, mas não posso deixar de lamentar que esse “perfeccionismo” não tenha tradução nas suas aparições públicas. Afirmações desconexas e incongruentes em entrevistas, uma participação lamentável num reality show e um poluente tirocínio para a carreira de cantor são contributos, de um rol nem por sombras exaustivo, para um acervo de insensatez, amadorismo e mau gosto.