A OBSTINADA NEBLINA E O ALVO COLORIDO
Agosto 02, 2012
J.J. Faria Santos
O sul-coreano Im Dong Hyun bateu o recorde do mundo no tiro ao arco nos Jogos Olímpicos de Londres, averbando um total de 699 pontos com 72 flechas. Acontece que o atleta é considerado clinicamente cego por ter apenas 10% de visão.
Jorge Luís Borges escreveu no seu poema On his blindness : “Ao cabo dos anos o que me rodeia / é uma obstinada neblina luminosa / que reduz as coisas a uma coisa / sem forma nem cor. Quase a uma ideia.” Já Dong Hyun é capaz de distinguir as cores num alvo a 70 metros de distância, e isso faz toda a diferença. Estamos habituados a celebrar a excelência baseada na superação dos limites individuais, tendo como pressuposto adquirido condições semelhantes de disputa. Que alguém tenha partido de uma tão aparente abissal desvantagem para atingir o cume da performance numa modalidade é um testemunho irrefutável das potencialidades do engenho humano.
Borges concluiu o trecho mencionado, desabafando: “Aos outros cabe-lhes o universo; / a mim, penumbra, o hábito do verso” (in Os Conjurados – Difel). Dong Hyun parte da penumbra e distingue no alvo uma espécie de arco-íris que alberga a recompensa dos vencedores.