JOGO DE LÁGRIMAS
Maio 05, 2012
J.J. Faria Santos
Há muito para admirar num jogo de futebol. Pode ser a particular mistura do profissional com o lúdico que parece embeber as exibições do Barcelona: automatismos e criatividade, estratégia de grupo e fulgor individual; ou a feroz resistência do Chelsea, recorrendo a uma postura de underdog, defendendo com afinco, apostando na força física e na velocidade das transições para criar oportunidades e contrariar a superioridade técnico-táctica do oponente.
No campeonato nacional, era impossível não nos entusiasmarmos, por vezes, com as cavalgadas velozes do Benfica, em vagas sucessivas, comprimindo o adversário; ou não sentir uma ponta de exasperação quando, mesmo sem estar em vantagem, o F.C. Porto se entregava a uma estranha apatia competitiva, desenvolvendo o seu jogo com uma lentidão sonífera. Mesmo que depois, um lance de génio de Hulk ou de James Rodriguez redimissem toda a equipa e todo um desafio.
Os especialistas dividem-se, o que é natural numa actividade que pretende ser, idealmente e em simultâneo, um espectáculo e uma competição. Dosear o esforço é decisivo e há uma linha muito esbatida entre o empenho intransigente e o esforço inglório.
No final do Rio Ave-Benfica da passada semana, uma criança chorava desalmadamente, tentando suster as lágrimas com a passagem pelos olhos do cachecol do clube lisboeta. A seu lado, um familiar procurava consolá-la. Dizendo-lhe, por certo, que o futuro lhe reservaria inúmeras oportunidades para o júbilo. Não há, evidentemente, consolo do porvir que apague o desalento do presente. Restam as lições das horas amargas: lidar com a frustração é um mecanismo de crescimento. “Levantar a cabeça e pensar no próximo jogo” não é uma estratégia de negação, ou de optimismo serôdio de dirigente inchado de importância pelo seu cargo na “instituição” – é uma condição de sobrevivência: no futebol como na vida.