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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

AQUI DEL REY!

Março 22, 2012

J.J. Faria Santos

No cinema, aprecia o género noir , designadamente O Crepúsculo dos Deuses e À Beira do Abismo, este último uma complexa narrativa com o dedo de William Faulkner e a interpretação da dupla Bogart-Bacall; na música, as suas preferências vão para Elvis, Sinatra, Nina Simone ou Nirvana. Em 2012 lançou Born to Die, trabalho que Sasha Frere-Jones, na New Yorker, definiu como “um álbum de canções melodramáticas que soam como a banda sonora de um filme”. Aposta num visual forte, jogando com os estereótipos da starlet americana, da colegial perversa ou de um romantismo barroco, invariavelmente de carnudos lábios entreabertos. A música, onde predominam as cordas, acolhe a influência assumida da banda sonora de Beleza Americana, composta por Thomas Newman, mas também parece colher inspiração, para a secção rítmica, dos Portishead.

A polémica estalou a propósito de algumas inseguras actuações ao vivo e, como habitualmente quando alguém se apresenta com uma imagem forte, proliferaram as suspeitas de vacuidade ou inconsistência. Na peça citada da New Yorker, destacam-se as “melodias bem construídas e a riqueza harmónica”, mas afirma-se faltar à personagem Lana Del Rey “profundidade emocional e psicológica”.

Nos temas de Born to Die, existem referências a Nabokov, com uma citação explícita de Lolita  em Off the Races (“Light of my life, fire of my loins”), e a Tennessee Williams em Carmen (“Relying on the kindness of strangers”). Em National Anthem, adopta a identidade de uma material girl  para o século XXI (“Money is the reason we exist” e “Do you think you’ll buy me lots of diamonds?”).

Se interiorizarmos que estamos no núcleo do planeta pop talvez compreendamos a frivolidade desta discussão. Já era tempo de concedermos que leveza não é irrelevância, e de percebermos que uma demonstração de estilo não exclui a substância. Músicos brilhantes já se enredaram em intragáveis álbuns conceptuais, e letristas geniais já se perderam no labirinto das suas obsessões, pelo que será avisado não tratar apressadamente como descartável um qualquer fenómeno contemporâneo. 

Graças ao sucesso fulgurante de Video Games, Lana Del Rey inscreveu nas nossas memórias visual e auditiva o ADN de uma fórmula que reúne drama e obsessão e, como ela canta em Dark Paradise, “there’s no remedy for memory”.

 

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