A MORAL DO MAL
Março 17, 2012
J.J. Faria Santos

Imagem: freefoto.com
O mal tem moral? O que é o desvio e o que é a norma? Interrogações inquietantes que nos assaltam quando, à boleia da voz off, partilhamos os pensamentos de um psicopata com um código de conduta. Já testemunhámos a extensão da sua inclemência no desempenho da sua inconfessável missão, já nos surpreendemos com a agilidade com que simulou empatia, já o vimos abraçar a conjugalidade e experimentar o remédio que prescreve aos outros. Vemo-lo, agora, no papel de pai extremoso. Claro que o que torna Dexter uma série inovadora é a deslocação da perspectiva, que torpedeia a expectativa. O espectador é convidado a acompanhar o tom confessional dos pensamentos de um serial killer, e a repulsa transmuta-se em tolerância, quando não aquiescência. Porque o fulcro da sua acção assenta num justicialismo populista - a eliminação selectiva dos escroques que escaparam às forças da ordem. E qual de nós, num momento de fraqueza, num relaxamento dos nossos adquiridos civilizacionais, não sucumbiu à indignação perante o inominável, e não desejou, em pensamentos, dar livre curso à sua fúria?