É A ECONOMIA, ESTÚPIDO! (OU TALVEZ NÃO)
Fevereiro 25, 2024
J.J. Faria Santos
O que irá determinar o vencedor das eleições legislativas é a ponderação que o eleitorado fará entre as condições económicas objectivas e a atracção subjectiva pela mudança. Não será despicienda a substituição de um António Costa que, embora não despertasse paixões arrebatadoras, era percepcionado como um político sólido, com capacidade de decisão e solidez de propósitos, por um Pedro Nuno Santos com um projecto político definido mas ainda à procura de um estilo em que o dinamismo e a assertividade não corram o risco de passar por precipitação e radicalismo. Nem o perfil baço de um Luís Montenegro pouco inspirador, acossado pelo espectro da extrema-direita que o leva a tingir a moderação com o resvalar para o panfletário.
O impacto da conjuntura económica nas escolhas dos eleitores está vastamente documentado. Más condições económicas conduzem quer à penalização dos governos quer ao aumento da afluência às urnas. O agravamento do desemprego é um dos factores importantes. Um estudo das eleições ocorridas em Portugal já neste século parece sugerir que os eleitores no processo de decisão do seu voto ponderam as condições económicas dos 2 anos anteriores a cada eleição.
Os dados económico-financeiros parecem ser favoráveis ao partido incumbente. Em 2015 a dívida pública correspondia a 131,2% do PIB ao passo que no final de 2023 era de 98,7% do PIB; em 2015 o défice público era de 4,4%, e para 2023 o Conselho de Finanças Públicas antevê um superávite de 0,9%; em 2015 a taxa de desemprego era de 12,9% e no final do ano transacto cifrava-se nos 6,5%; a taxa de risco de pobreza era de 46,1% (antes das transferências sociais) e de 19% (depois das transferências sociais) em 2015, sendo que no final de 2022 os valores eram de, respectivamente, 41,8% e 17%. Em 2023 o crescimento económico português superou a média da zona euro, a dívida externa baixou para valores (53,5% do PIB) que não se registavam desde 2005, o salário médio aumentou 6,6% e trabalhadores e pensionistas tiveram aumentos reais.
Em 1992 o consultor político James Carville, ao gizar a estratégia da campanha de Bill Clinton, definiu três mensagens-chave para alcançar a vitória: explorar os dados económicos, as virtudes da mudança face à situação e a importância dos cuidados de saúde. Em Portugal, numa data muito próxima dos idos de Março, se a conjuntura económica poderá favorecer o PS, a disrupção nos cuidados de saúde tenderá a favorecer o PSD, pelo mero efeito de protesto, visto não ser evidente que este tenha soluções particularmente inovadoras ou eficazes. No que diz respeito à mudança, resta saber se a alternativa consubstancia uma oferta mobilizadora e carismática, sobretudo quando a novidade, sob a forma de um novo líder, também se instalou no partido incumbente. Portugal inteiro ou mudança segura? O eleitor decidirá.
Imagem: jornal Público