DE TRUMP AO MORGADO AINDA VAI UM BOM BOCADO
Março 26, 2019
J.J. Faria Santos
Os estudos de opinião podem contrariar a possibilidade de Donald Trump ganhar um segundo mandato na Casa Branca, mas uma mistura certeira que inclui uma economia resistente, a prevalência de notícias falsas e uma “mensagem política inteligente” pode valer um novo triunfo ao magnata do imobiliário. Esta é a tese expendida por Ian Bremmer na Time. E em que consistirá a tal “mensagem política inteligente”? Basicamente em explorar o populismo nacionalista e colar aos adversários a etiqueta de “socialista”. Estratégia demasiado tosca e simplista para resultar? Bremmer trata de explicar que os americanos não rejeitam as ideias progressistas do Partido Democrata (70% apoiam o aumento dos impostos para os super-ricos e 68% consideram que o dinheiro e a riqueza deveriam estar mais bem distribuídos), mas apenas 25% apoiariam um “socialista” para presidente. Nestas circunstâncias, prossegue o articulista, Trump tratará de utilizar as redes sociais para amplificar a mensagem, sendo estas o meio adequado para um discurso político “dominado por rótulos ideológicos em vez da explicação política detalhada”.
Miguel Morgado quer “apontar um caminho intelectual para refundar a direita” (Público, edição de 21 de Março). Aposto que também deve ter uma “mensagem política inteligente”. Com uma pitada de nacionalismo (“queremos pensar a partir de raízes portuguesas e não estar a ficar dependentes de importações ideológicas e da moda”) e populismo quanto baste (“este regime está podre. Ninguém faz nada sem agradar ao PS”). Para completar o ramalhete, nada melhor que a demonização do socialismo (“o estatismo (…) é um ramo do esquerdismo, do socialismo que queremos combater” / “Revejo-me no PSD como um partido fundamentalmente não-socialista” / “(…) excluindo os processos de corrupção (…) o que temos sobretudo é um projecto de governação em que há uma perfeita continuidade entre António Costa e José Sócrates”). Suspeito que por detrás desta ofensiva ideológica com o seu quê de bravata, esconde-se o despeito perante a aparente neutralidade de Marcelo e o recentramento do PSD operado por Rio. Os viúvos do passismo e os liberais da velha guarda não se revêem na docilidade do líder do PSD ( contra o “radical e extremista” Costa exigia-se combatividade), nem na liberalidade nos costumes que Cristas vai apregoando entre o Cinco para a Meia-Noite e o Cabaret da Coxa. Daí que o Morgado tenha saltado para a liça, acompanhado dos suspeitos do costume: da jornalista ao historiador, passando por um leque de militantes partidários, todos em movimento para refundar a direita e aniquilar o socialismo que amordaça Portugal.