"Christmas Eve in The Studio" de Mary Louise Fairchild
(Courtesy of Bert Christensen)
Graham Greene, numa visão algo sombria, escreveu sobre o Natal que precisamos de um período em que possamos lamentar todos os falhanços nas nossas relações interpessoais – chamou-lhe “a festa do fracasso, triste mas consoladora”. Hoje em dia, esta época propícia ao apaziguamento e à reconciliação dá novo sentido aos versos do poeta que, reconhecendo Dezembro como o mês por excelência desta celebração, advogava que Natal era quando o homem quisesse. Mal entra o Outono, com as suas folhas caídas e a memória enternecida do calor das tardes de praia, principia a invasão dos enfeites natalícios.
Exigências do comércio, certamente, explorando, porventura, a tal necessidade de reconciliação e de bem-aventurança, espelhada na forma como distribuímos generosamente os votos de boas festas a amigos, conhecidos e estranhos, quantas vezes de uma forma indistinta. Como se vivêssemos no reino do pensamento mágico e a pronúncia das palavras certas remediasse as nossas insuficiências. Precisamos de mais empenho e intencionalidade, sob pena de no dia 26 experimentarmos a frustração descrita por Sylvia Plath em A Campânula de Vidro: “Era o dia a seguir ao Natal e o céu pairava cinzento sobre nós cheio de neve. Sentia-me empanturrada, entorpecida e desiludida. Como aliás me sinto sempre no dia a seguir ao Natal, como se as promessas insinuadas no pinheiro, nas gambiarras, nos presentes cuidadosamente embrulhados, na lareira, no peru e nas canções cantadas ao piano, nunca se realizassem.” (Edição Assírio & Alvim, tradução de Mário Avelar)