HOPPERÁTICO
Outubro 25, 2012
J.J. Faria Santos
"High Noon" de Edward Hopper (Courtesy of Bert Christensen - www.bertc.com )
Edward Hopper nasceu em Nyack, Estado de Nova Iorque, a 22 de Julho de 1882 e faleceu a 15 de Maio de 1967. Estudou artes gráficas e pintura. Em 1906, terminados os estudos, partiu para Paris, onde frequentou exposições e pintou ao ar livre. Mais tarde, trabalhou como ilustrador. Apreciava os clássicos franceses (Proust, Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Molière, Victor Hugo) e os conterrâneos Eugene O’Neill, Tennessee Williams e Ernest Hemingway. Espectador assíduo de teatro e de cinema, terá ficado visivelmente bem impressionado com o filme“O Acossado” de Jean-Luc Godard.
Na sua pintura, são detectáveis, entre outras, influências de Caspar D. Friedrich, William Turner e dos impressionistas e ainda, especificamente, de Degas na perspectiva. Para uns foi o expoente máximo da pintura realista, para outros foi sobretudo um percursor da Pop Art.
Empenhado em sublinhar o contraste entre a natureza e a civilização, Hopper foi um retratista de paisagens urbanas, onde inscrevia rígidas figuras humanas em confronto com a solidão, o vazio e a incomunicabilidade.
Escreveu Ivo Kranzfelder, num volume editado pela Taschen, “Nos seus quadros ninguém vive a sua impetuosidade; pelo contrário, Hopper eleva a contenção ao nível do acto cultural”. É como se, poderíamos acrescentar, o pintor privilegiasse capturar os momentos de pausa, antes ou depois da acção. Se se trata de momentos de pura angústia, paralisia, indecisão, recolhimento, reflexão ou tranquilo deleite, cabe ao espectador de cada quadro decifrar.
Acerca da postura langorosa e do traje informal da mulher de “High Noon”, criando uma atmosfera erótica, poderíamos reproduzir a interrogação que Gérard Miller formulou na revista Globe a propósito do teledisco de Madonna “Justify my Love”: “Attend-elle le passage du phallus ou vient-elle de succomber à son effort?”. Do casal de “Room in New York” (ele lendo o jornal, ela pressionando com displicência as teclas de um piano), podemos supor que a alienação produzirá uma discussão, ou então que o conformismo amaciará o tédio conjugal. O mutismo representado em “Cape Cod Evening” é tão intenso e avassalador (o homem sentado à porta a acariciar a vegetação, a mulher, hirta, de rosto fechado e de braços cruzados), que só conseguimos antever a eternização da agonia.
Que nas suas cenas do quotidiano americano Hopper seja capaz de aspirar à universalidade, só nos mostra que uma certa atmosfera urbana que une a liberdade à solidão produz um efeito de identificação que transcende povos e nações. Parafraseando um título dum outro analista da paisagem americana, Raymond Carver, não seria difícil imaginar uma figura de um quadro do pintor a dizer a outra: “Telefona Se Precisares de Mim”. Nem que seja, acrescentaríamos nós, para partilhar longos momentos de silêncio. E partilhar, bem o sabemos, é a palavra-chave do século XXI.