VALSA DE TRANQUILIDADE E TUMULTO
Agosto 31, 2012
J.J. Faria Santos
Imagem: Freefoto.com
Há algo no mar que apela à insurreição. Mesmo quando a maré está baixa, é como se fosse um intervalo, um reagrupar de hostes antes da nova batalha. Mesmo quando extraímos dele doses homeopáticas de serenidade, sabemos no íntimo que ele nos prepara para o confronto. Será que o balouçar calmo das águas nos traz reminiscências da maternal mão que embalava o berço? (E que pensar da semelhança fonética, na língua francesa, entre mer (mar) e mère (mãe) ? E será que a visão da onda encapelada desperta em nós os mais básicos instintos de selecção natural e sobrevivência do mais forte?
Os poetas, essa estirpe que os utilitaristas abominam e os diletantes incensam, têm uma relação com o mar que vai da simbiose irredutível da portuguesa Sophia (“Quando eu morrer voltarei para buscar / os instantes que não vivi junto ao mar”) ao conflito aberto do espanhol Antonio Machado (“Todo hombre tiene dos / batallas que pelear: / en sueños lucha com Dios / y despierto, con el mar”. O comum dos mortais, hesitante entre o respeito e a temeridade, a observação deleitada e a aventura exploratória, vai-se entregando à valsa de tranquilidade e tumulto das águas salgadas a que o sol confere o brilho rutilante das preciosas pedras sem preço.