FELIZ ANO NOVO?
Dezembro 29, 2011
J.J. Faria Santos
Habitamos um tempo de renúncia e expiação. Todos os dias, numa acusação a roçar a injúria, nos lembram alegados excessos e imprevidências, insuficiências e incapacidades. Ontem, sussurravam-nos melodias maviosas para os amanhãs que cantariam; hoje, a música é minimal repetitiva e o amanhã é sempre tarde demais. O tribunal internacional está reunido, a acusação enunciada, a sentença proferida, a pena decretada: sucumbimos à humana tentação de querermos viver melhor e vamos ter de suportar a cegueira da austeridade sem contemplações. Não importa que os líderes, ao sabor das flutuações da conjuntura, dos interesses nacionais ou das pressões dos míticos “mercados”, tenham ziguezagueado na definição da política económico-financeira (primeiro era necessária mais despesa pública para evitar a recessão; agora vamos mergulhar convictamente na recessão para combater o sobreendividamento e a crise das dívidas soberanas) e nos sinais de orientação que passaram para os cidadãos que os elegeram. 2012 vai ser o nosso annus horribilis. Resta-nos preservar o melhor da nossa condição humana: é na adversidade que se testa a resiliência de qualidades como a entreajuda e a solidariedade desinteressada. E é também nos tempos difíceis que repelimos a tentação de julgar as acções dos outros pelos nossos filtros. Um ano de vida é uma maratona. Temos de deixar de viver como se cada dia fosse uma corrida de cem metros obstáculos e apostar na prova de fundo. Alea jacta est (a sorte está lançada).