O CORAÇÃO DO FADO
Novembro 26, 2011
J.J. Faria Santos
Um coração independente, persistente e indomável, levava Amália, entre a perplexidade e a impotência, a proclamar: “Se não sabes onde vais / Porque teimas em correr / Eu não te acompanho mais”. Décadas mais tarde, a partir do mesmo Fado Bailado, Fernando Pinto do Amaral escreveu, para a voz de Carlos do Carmo, uma variação de sentido contrário: “Se ainda bates coração / Sem razão / Não te sei dizer que não / Vou contigo até ao fim”. Quer um quer outro iluminam a essência do fado: uma aguda percepção, muito para além da vulgata do miserabilismo e do fatalismo, de que, independentemente do livre arbítrio e do exercício da vontade, uma vida é um constante desafio ao aleatório e ao contingente, onde, num minuto, um aventura de sonho se pode transformar num descalabro colossal. E um dia, como enunciava o título de um celebrado filme francês, de tanto bater o coração pára.