AVACALHAR
Setembro 25, 2011
J.J. Faria Santos
Na secção Gente do Expresso foi publicada uma hilariante resenha de episódios que demonstram o interesse do Presidente da República pelo gado vacum. O mais antigo, que remonta a 1991, envolve o reencontro na Ovibeja de uma vaca que Cavaco Silva conhecia da Golegã. Não se sabe o que admirar mais: se a capacidade do então primeiro-ministro para fixar os traços fisionómicos do animal, se a eventual singularidade do bicho, decerto com atributos excepcionais que chamaram a atenção do estadista. Há cerca de uma ano, Cavaco revelou, pela primeira vez, a sua perspicácia em psicologia bovina, quando numa exploração agrícola notou que as vacas avançavam ordeiras e se encostavam ao robô, sentindo-se “deliciadas” enquanto este realizava a ordenha. Esta semana, nos Açores, aludiu ao “sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas, olhando o pasto”. Estes podem parecer inócuos devaneios animistas, mas talvez não o sejam. As vacas do primeiro exemplo estariam “deliciadas” porque se sentiam inseridas num sistema de produção moderno e eficiente (só alguém de mente depravada poderia associar a delícia a qualquer forma de gratificação sexual…), ao passo que as vacas açorianas retirariam a sua satisfação da abundância de alimento ou, mais credível ainda, da presença de uma figura que as honra com o seu interesse e a profundidade analítica das suas observações. Agora que interiorizamos que acabou o tempo das vacas gordas, que voltamos à vaca fria da austeridade, que multiplicamos as vaquinhas para reduzir custos e que nos resta a ilusão de chamar esbeltas às vacas magras, conseguem conceber alguém melhor apetrechado para exercer o cargo de Presidente da República? E que importa que na Madeira se tenha promovido o desrespeito activo da lei ou a ocultação de dados estatísticos quando, na outra região autónoma, nos podemos deleitar com as Monas Lisas da pecuária?