A LUTA DE CLASSES SEGUNDO FERNANDO PESSOA
Julho 30, 2011
J.J. Faria Santos
Quo Vadis, Europa? Perguntam, atarantados e descrentes, políticos e jornalistas, diplomatas e pensadores, conformistas e visionários. Lamentam-se as vistas curtas do poder e fazem-se arriscadas profissões de fé nos mecanismos de autogestão. Evitam-se gestos de ruptura para não desestabilizar o mastodonte, fingindo-se ignorar que o descrédito espreita a coberto da pusilanimidade e da opção pelo controlo de danos. Sucumbir ao totalitarismo da finança seria trágico para o destino europeu e poria em causa aquilo que George Steiner, no ensaio "A Ideia de Europa", chamou de "herança dupla de Atenas e Jerusalém". Escreveu Steiner (no livro citado): "A dignidade do homo sapiens é precisamente essa: a percepção da sabedoria, a demanda do conhecimento desinteressado, a criação da beleza. Fazer dinheiro e inundar as nossas vidas de bens materiais cada vez mais trivializados é uma paixão profundamente vulgar e inane." Não ignoramos que é difícil elevar o espírito em tempos de austeridade e privação , mas não é a satisfação das necessidades básicas que aqui se quer relevar. Condições adversas geram muitas vezes a formulação de grandes desígnios. "A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe.", escreveu Fernando Pessoa. Está na hora de promover uma concertação social que liberte os europeus das contingências rasteiras do viver quotidiano, de forma a que neste, e para além deste, se irmanem naquilo que a arte é na sua essência: um conjunto de representações de uma realidade objectiva pelo homem e para o homem. Da multiplicidade das representações advirá a energia para uma transformação que liberte a Europa do logro das soluções economicistas.