MADONNA VS. LADY GAGA - A BELA E O MONSTRO
Junho 25, 2011
J.J. Faria Santos
"A Madonna é uma espécie de anti Virgem, embora ela tenha aquela canção 'Like a Virgin'. Essa é a provocação máxima. Mas não é só provocação. É também fascínio, porque ela sabe que a Virgem é outra. É uma personagem que me fascina, porque tem um sentido de uma outra religiosidade, uma espécie de religiosidade antirreligiosa, da ordem da provocação". Assim falava Eduardo Lourenço, em finais do ano passado, em entrevista ao Expresso, onde também referia Andy Warhol e Lady Gaga. Madonna e a sua putativa sucessora partilham o gosto pela imagem em construção, numa vertiginosa sucessão de personas, e pelos videoclips elaborados. Mas enquanto Madonna erigiu em propósito artístico a provocação de que falava Eduardo Lourenço (mesmo quando ela parece ser fortuita, que é o que se pode pensar do relacionamento com o jovem modelo Jesus Luz, em que era irresistível pensar num outro estádio do binómio Nossa Senhora e o menino...), Lady Gaga parece apostar numa espécie de agregação de misfits, os seus monstrinhos, a quem ela prega o sermão da aceitação e da pertença. Temos assim, de um lado alguém apostado em esticar os limites do visível na exploração da sexualidade e em dessacralizar o religioso, e do outro, como notou Ramin Setoodeh na Newsweek, uma espécie de Oprah. Enquanto Madonna usa a sua fotogenia para nas suas reinvenções evocar as divas do cinema clássico, Lady Gaga acentua os seus traços físicos menos convencionais para congregar os seus seguidores numa manifestação pela diversidade. Só que, detalhe relevante, a provocação é assertiva, parte de uma posição de domínio, de necessidade de expansão, enquanto que a reacção que deriva da irmandade na segregação é uma acção de empowerment que parte já em perda.