A SEITA
Março 27, 2011
J.J. Faria Santos
Não é fácil dizer o que é que é mais chocante no documentário "Inside Job - A Verdade da Crise", de Charles Ferguson. Mas candidatos não faltam: a forma como a paulatina desregulação financeira conduziu ao triunfo da especulação; o envolvimento persistente das instituições em esquemas de lavagem de dinheiro, fraude contabilística e ludíbrio dos clientes; as compensações milionárias dos executivos de topo (mais de mil milhões de dólares entre 2000 e 2007 só na Lehman Brothers); o falhanço rotundo das autoridades reguladoras e das agências de rating; a promiscuidade entre os responsáveis políticos e Wall Street.
Acossadas pela evidência de uma colossal incompetência ou de uma criminosa cumplicidade, as agências de notação financeira desqualificaram a sua própria classificação até ao nível da mera opinião. Deven Sharma, da Standard and Poor's, chegou mesmo ao ponto de afirmar que essas classificações não se referiam ao "valor de mercado dum título, à volatilidade do seu preço ou à sua pertinência enquanto investimento".
Quanto aos agentes políticos, a sua permissividade talvez se possa explicar pelos cinco mil milhões de dólares gastos pelo sector financeiro em lobbying e contribuições para campanhas eleitorais, entre 1998 e 2008.
Escreveu Michael Lewis, num extenso artigo para a Vanity Fair de Março, acerca da crise irlandesa: "Um sistema bancário é um acto de fé: sobrevive só enquanto as pessoas acreditarem que sobreviverá (...) Os bancos irlandeses não foram geridos de forma a resistir á dúvida; foram geridos de forma a explorar a fé cega". Neste momento, e em relação ao sector financeiro em geral, somos todos, no mínimo, agnósticos, altamente desconfiados desta seita e do seu evangelho que nos prometia o Paraíso e nos entregou o Armagedão.