AI SE EU TE PEGO! TE ESTRAFEGO!
Março 07, 2012
J.J. Faria Santos
Fosse eu um espírito gregário, e dado a manifestações de activismo, e estaria agora na linha da frente da promoção de uma petição para sensibilizar os responsáveis pela selecção musical de todo e qualquer conteúdo de emissão pública para a necessidade de evitar a difusão do omnipresente “Ai se eu te pego”. Volta “Macarena”, estás perdoada!
E digo sensibilizar porque seria inadmissível uma acção mais musculada, que se assemelhasse a censura, embora, na verdade, só esse radicalismo acalmasse a minha repugnância. Não desconheço que haja algo de irracional nesta minha aversão, mas não sei o que se me afigura mais ridículo: se a letra inane, se a música banal, se a interpretação delicodoce, se a coreografia infantil, se o patético transe colectivo das fãs.
Para popular ou popularucho, é mil vezes preferível a “Comunhão de bens” da Ágata (“podes ficar com a casa, o carro e as jóias…” – há aqui um louvável desprendimento em ritmo de valsa…); ou o “Afinal havia outra” da Mónica Sintra (onde algures na letra existe o quase poético “amor das horas vagas”); ou até a malandrice explícita das canções do Quim Barreiros. Agora este arremedo vagamente eroticizado (ai se eu te pego), soa a preliminar pouco convincente de paixão pouco arrebatada. “Nossa / assim você me mata”, diz ele. Mais depressa morre ela… de tédio…ou de síndrome de indigência musical. Sim, porque isto do despertar das sensações requer imaginação e alguma sofisticação. Ambas patentemente ausentes deste repelente “sucesso” instantâneo.