PAIXÃO VIOLETA
Março 26, 2011
J.J. Faria Santos
Elizabeth Taylor morreu no exacto mês em que se celebra o centenário do nascimento de Tennessee Williams. O dramaturgo norte-americano afirmou que a sua obra era uma espécie de prece pelos selvagens encarcerados ("a prayer for the wild at heart that are kept in cages"). Em Elizabeth Taylor havia algo de bravio e indomável que nada nem ninguém conseguiram aprisionar. Recordo a carnalidade exuberante em "Gata em Telhado de Zinco Quente" e a complexidade do seu papel em "Bruscamente no Verão Passado". Mas foi arremessando as palavras de outro autor, Edward Albee, em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", que ela brilhou a grande altura. Como se fosse uma médica legista a fazer a autópsia, em vida, do seu próprio casamento, Martha, a sua personagem, submete o marido (interpretado por Richard Burton) à mais brutal sevícia psicológica, com aquela dose de crueldade que reservamos para as pessoas que amámos, por nos terem desiludido. Ou iludido...
Com a legenda "fim" inscrita no genérico final de uma vida de paixões, resta-nos a memória cinematográfica. iluminada pelo violeta iridescente dos seus olhos em Technicolor.