FERRUGEM AMERICANA
Janeiro 15, 2012
J.J. Faria Santos

Uma siderurgia encerrada e desmantelada a marcar uma paisagem com verdes colinas, uma floresta extensa e um rio; uma mãe que se suicidou, um pai doente e dependente, uma irmã que aproveitou Yale para ascender socialmente e lidar com a culpa da carga familiar empurrada para o irmão, talentoso e inadaptado; um amigo cujo potencial como desportista fora frustrado, e cuja mãe, abandonada pelo marido alcoólico, engana a solidão suportando sucessivas desilusões amorosas. Num cenário de devastação económica, os mais nobres sentimentos providenciam a impermeabilização que impede a oxidação de uma existência difícil. Por amizade ou por amor, quase todos se transcendem, iludindo fraquezas e falhas de carácter. Arriscam o impensável, ultrapassam o limiar da legalidade, arremetem contra tudo e contra todos com a inconsciência dos perdidos. E resistem. Em “Ferrugem Americana”, de Philipp Meyer, a esperança na capacidade de redenção da natureza humana sobrevive, incólume, à colossal derrocada do sonho americano.