FUNESTA PRIMAVERA
Março 20, 2011
J.J. Faria Santos
Em 1957, acabrunhada, o seu casamento com Henry Miller em destroços, Marilyn Monroe escrevinhou que tentara imaginar a Primavera durante todo o Inverno e que, quando ela chegara, continuara a sentir-se desesperada. E porquê? Porque o amor se dissipara. No ano seguinte, escreveu: "Help Help / Help / I feel life coming closer / when all I want / Is to die". Este pavor da vida que se aproxima, esta indesejável ameaça da existência, esta pulsão suicida, trouxeram-me à memória o título de um livro de Pedro Paixão - "Viver Todos os Dias Cansa". Marilyn expõe, no papel, desmentindo os que viam nela a mediocridade acéfala da beleza oca, a outra face do estrelato, ou seja, a radical humanidade das fraquezas que a fama não ilude. Se a beleza é, basicamente, simetria, proporção, equilíbrio e harmonia, então o ícone cinematográfico guardava no seu íntimo, prisioneiro de traumas e fantasmas, farrapos de fealdade.