UM HOMEM LIVRE
Dezembro 18, 2011
J.J. Faria Santos
Não se deixava encaixar em escolas de pensamento, nem se deixava limitar por acantonamentos ideológicos (“Não é o conteúdo de um pensamento que define um espírito independente, mas, sim, a sua forma de pensar”). Não permitia que o intimidassem com a suspeita de uma qualquer deriva elitista, e repelia o populismo e a demagogia do colectivismo (“Em geral, as massas e os grupos são menos inteligentes do que cada um dos seus membros, quando isolados”). Não temia a iconoclastia e a dissidência (“A procura da segurança conferida por uma maioria nada tem a ver com a solidariedade; pode ser, antes, uma outra designação para o consenso, a tirania e o tribalismo”), mas compreendia que, para certos indivíduos, o preço a pagar pudesse ser demasiado elevado (“Há pessoas que não toleram a solidão, e, muito menos, a ideia de que os céus são vazios e que os nossos gritos inúteis nunca romperão o silêncio”).
Christopher Hitchens morreu depois de uma lúcida, irreverente e combativa temporada em Tumortown. “O mundo pode ser absurdo e sabemos que a nossa vida será sempre breve”, escrevera ele em 2001. Talvez por isso, tenha recomendado: “Procura a argumentação e a contestação pelo que valem: a sepultura dar-te-á tempo de sobra para o silêncio”.
(As citações de Hitchens foram retiradas de “Cartas a um Jovem Contestatário”, edição Círculo de Leitores).