SUA EXCELÊNCIA, O GRANDE OFICIAL
Dezembro 04, 2011
J.J. Faria Santos
Carlos da Silva Costa, Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, licenciado em Economia, e que “realizou estudos de pós-graduação e investigação” na Sorbonne e “frequentou o Programa de Gestão para Executivos do INSEAD”, actual governador do Banco de Portugal, dirigiu-se a João Galamba, deputado, licenciado em Economia e frequência do doutoramento em Filosofia Política, nos seguintes termos: “Se não sabe o que é crowding out vá aprender”. De seguida acusou-o de “ignorância total” e má-fé intelectual”. Tudo isto num tom que seria professoral se não fosse boçal, e de autoridade intelectual se não fosse prepotente e desqualificado pela soberba.
O senhor governador não pode e não deve, numa sessão do Parlamento, perante representantes eleitos do povo português, adoptar um tom de altivez e grosseria, achincalhando quem o interpela ou contradiz. A capacidade de persuasão de um argumento é regra geral inversamente proporcional à elevação da voz e aos ataques apoplécticos de indignação, genuína ou fabricada. As regras de democracia comportam a vivacidade e a acutilância na troca de argumentos, mas preservam a civilidade. Quem se quer fazer respeitar não pode desconsiderar os outros.
Suspeito que o senhor ministro das Finanças, que indiscutivelmente não sofre de “ignorância total” e que sabe o que é o crowding out (e também o credit crunch, o boom bust cycle e o trickle-down efect, e por aí fora…), adepto e praticante do discurso pedagógico em slow motion, deve ter ficado horrorizado com o estilo belicoso do Grande Oficial.