CONTÁGIO
Novembro 18, 2011
J.J. Faria Santos
Credit: Free images from acobox.com - "LE RAPT D'EUROPE" DE JEAN-BAPTISTE MARIE PIERRE
Angela Merkel sentiu-se na obrigação de, no congresso do seu partido, alertar os seus correligionários para o facto de “se a Europa sofrer, a Alemanha também sofrerá”. Lembrou que a UE é o destino de mais de 60% das exportações alemãs, e que poderiam ficar em risco cerca de nove milhões de postos de trabalho alemães. No entretanto, persistem as divergências sobre o papel do BCE na gestão da crise e as taxas de juro das dívidas da Espanha, Itália, França, Bélgica e Áustria atingem valores recorde. Jean-Claude Juncker, visceral adversário de qualquer apartheid na zona euro, considerou mais preocupante a dívida alemã do que a espanhola (a dívida pública da Alemanha representa cerca de 26% da dívida pública total da zona euro). Niall Ferguson, desvalorizando a capacidade dos Estados Unidos imprimirem moeda à medida dos seus desejos, alerta na Newsweek para a possibilidade da crise europeia deflagrar também na terra do Tio Sam. “Actualmente a dívida federal bruta situa-se nos cerca de 100% do PIB. Há quatro anos estava nos 62%. Em 2016 o Fundo Monetário Internacional prevê que será de 115%”, enumera ele. E não deixa de relembrar que as exportações americanas para a UE são três vezes superiores às que se destinam à China. É arriscado confiar na estrela do Oriente para compensar o refluxo das estrelas do Ocidente. Na mesma edição da revista, Gordon Brown recorda onze países que mudaram de governo desde que a crise começou, e contabiliza em 23 (de um total de 27) os ministros das finanças que foram desalojados dos seus postos. O pior é que este movimento em dominó não constituiu um rejuvenescimento da legitimidade democrática dos governos, nem a expressão de uma alternância de ideias ou de projectos. Numa altura em que, mais do que nunca, se deveria impor o primado da política, prevalece o mito da tecnocracia como fonte de governança equilibrada. O antídoto para o contágio que alastra radicará, necessariamente, no respeito pelo sentido etimológico das palavras: a organização da cidade (polis) terá de se libertar do espartilho limitado das regras que gerem a casa (oikos).