OTELARIA ( OTELO + TONTARIA)
Novembro 10, 2011
J.J. Faria Santos
“Para mim, a manifestação dos militares deve ser, ultrapassados os limites, fazer uma operação militar e derrubar o Governo”, disse Otelo Saraiva de Carvalho, em entrevista à agência Lusa. Esta declaração, e outras de idêntico teor, demonstram à saciedade a distância que vai do revolucionário ao democrata. Que as debilidades da democracia representativa não fossem pretexto para torpedear os seus fundamentos, era o mínimo que se poderia esperar do estratega do golpe que liquidou a ditadura. Infelizmente, Otelo parece advogar um regime político condicionado pelos pronunciamentos de uma vanguarda militar. Que isto se defenda em pelo século XXI, numa democracia ocidental consolidada, como contestação às decisões de um poder eleito e legitimado pelo voto livre de um povo, raia o delírio. Mas, bem vistas as coisas, o homem nunca foi um modelo de sensatez, e trilhou caminhos perigosos e altamente questionáveis. “Bastam 800 homens”, diz ele. 800 lunáticos para, sob a inspiração dele, conduzirem uma acção que, ironicamente, resultaria na liquidação do regime que ele se orgulhava, pelo menos até há seis meses, de ter ajudado a implantar. Entre o populismo e a irrelevância, o herói arrisca, aparentemente sem hesitar, desbaratar o seu precioso capital simbólico: o arrependimento não apaga o acto, mas deslustra a rectidão da intenção.