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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

THIS IS US (COM UMA PITADA DE TCHÉKHOV)

Novembro 21, 2017

J.J. Faria Santos

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Não é uma alegoria acerca dos bastidores do poder, suas intrigas e traições. Não é uma distopia futurista prenunciando os perigos da inteligência artificial. Não é uma ficção surrealista a redefinir os cânones do drama televisivo. Não é uma narrativa pós-apocalíptica onde cada acção pode pôr em causa noções de humanidade e civilização. This Is Us é uma comédia dramática familiar, povoada de personagens em luta com os seus fantasmas e à procura de reinvenção. Confrontados com a frustração das suas expectativas, no fundo com a impossibilidade dos seus talentos estarem à altura das suas ambições, poderiam dizer como a Irina da peça Três Irmãs de Tchékhov: “…o tempo passa e eu ando sempre com esta impressão de que nos afastamos da verdadeira vida, da beleza da vida, que cada vez nos afastamos mais, caminhando para um precipício qualquer.”

 

Mas ao contrário das irmãs da peça do autor russo, enclausuradas nas circunstâncias da sua própria existência, os Pearsons e os Taylors de This Is Us, excluídos os momentos compreensíveis de autocomiseração, estão mais próximos das interrogações do tenente-coronel Verchínin na citada peça: “Muita vezes penso: e se começarmos uma vida nova, mas em consciência? O que se viveu até agora é um rascunho, digamos, e a outra é passada a limpo!”

 

Nesta série televisiva ninguém parece prescindir de passar a vida a limpo, mesmo quando acabam por perceber que muitas vezes o que parecia conversa acabada não passava, de facto, de um rascunho. This Is Us não ambiciona a grande operática de Os Sopranos nem a genialidade de Sete Palmos de Terra. O seu território de eleição está próximo de seriados como Irmãos e Irmãs, onde se mostra como no quotidiano doméstico das famílias o banal se aproxima muitas vezes do extraordinário. This Is Us fala-nos dos obstáculos e de como os laços de entreajuda nos podem conduzir à superação. Porque afinal, para citar as derradeiras palavras de Macha na peça de Tchékhov: “É preciso viver…É preciso viver.”

 

(Citações de Três Irmãs extraídas da edição da Relógio d’Água com tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra.)

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