NÃO VALES UMA LÁGRIMA
Setembro 24, 2014
J.J. Faria Santos
Billie Holiday fotografada por William P. Gottlieb
(Fonte: Library of Congress - Jazz Photos)
Quando esta fotografia foi tirada, ela estava a escassos meses de completar 32 anos. Retratada com o seu fiel Mister, e com a gardénia a enfeitar o cabelo, Billie Holiday transmite uma luminosidade que parece querer exorcizar os seus dramas pessoais. A Enciclopédia da Editorial Verbo diz que ela se distinguiu “pela interpretação de canções numa voz ácida e velada, de fraseado sofisticado, imprimindo-lhes uma atmosfera de tristeza”. O que conferia intensidade a essa tristeza era a percepção de que ela era o resultado de uma vida vivida no lado errado da noite, onde o bálsamo para as feridas era o esquecimento. Ela própria confessou: “Estou sempre a regressar, mas nunca ninguém me diz onde é que eu estive”.
O que me agrada em Baby, I Don’t Cry Over You é que a composição de Morton Krouse permite a Lady Day divergir do tema recorrente da mulher abandonada ou incompreendida, permitindo-lhe uma abordagem mais próxima de um empowerment feminino. A história narrada pela canção é simples: Jill almoçou sozinha. Esperou que Jack lhe telefonasse. Como ele não o fez, em vez de carpir mágoas tomou um cocktail com o Lee e foi a um espectáculo com o Joe. Pelo meio, esclarece Jack que este género de comportamento não resulta com ela, e que nenhum homem é suficientemente homem para lhe partir o coração. Por fim, deixa um aviso: se ele não aparecer à noite, vai vestir o seu melhor vestido e partir para a farra.
“Listen Jack your sweet Jill / Will be out with some Bill / Maybe I don’t cry over you”, canta ela. E quem a pode censurar? Até a dor de corno tem prazo de validade.