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NO VAGAR DA PENUMBRA

NO VAGAR DA PENUMBRA

FRASES À PROCURA DE AUTOR ( PASSATEMPO DE VERÃO) II

Agosto 29, 2013

J.J. Faria Santos

1. “Nunca, em quase 50 anos, conheci um político que se aproximasse tanto de não ser nada como António José Seguro. Não tem um currículo académico de qualquer distinção. Não tem um currículo profissional. (…) E assim ficámos com um chefe da oposição sem uma ideia na cabeça e com um ar irresistível de seminarista.”

 

a)      Vasco Graça Moura

b)      Helena Matos

c)      Vasco Pulido Valente

 

2. “Sócrates tem um estilo que os portugueses não apreciam e que, no centro-esquerda, é raro. É directo, truculento e combativo. (…) Antes um Sócrates desagradável que vinte Cavacos sonsos e trinta Passos melosos.”

 

a)      Daniel Oliveira

b)      Proença de Carvalho

c)      Clara Ferreira Alves

 

3. “Cavaco é herbívoro, não é carnívoro. Ele come erva, não come carne.”

 

a)      Marcelo Rebelo de Sousa

b)      Miguel Sousa Tavares

c)      Marinho Pinto

 

4. “Pedro Manuel Mamede Passos Coelho nasceu em Coimbra a 24 de Julho de 1964, mas foi muito cedo para Angola (Luanda e Silva Porto), onde aprendeu até hoje a arte africana da seriedade nos negócios, mas em vez de lá ficar voltou para Portugal e isso é que foi pena.”

 

a)      Ricardo Araújo Pereira

b)      José Diogo Quintela

c)      Rui Cardoso Martins

 

5. “(…) o programa de austeridade que foi imposto a Portugal é insustentável do ponto de vista político porque é um programa que vai contra os interesses nacionais de Portugal e só serve os interesses estrangeiros, i.e., das nações credoras do Norte da Europa.”

 

a)      Paul Krugman

b)      Paul De Grauwe

c)      Francisco Louça

 

6. “A vida boémia é, de facto, um prazer – mas representa uma percentagem miserável do prazer possível. Até o contabilista que só sai ao sábado à noite sabe tanto sobre a boémia como o Marquês de Sade, outro limitado.”

 

a)      Pedro Santana Lopes

b)      Miguel Esteves Cardoso

c)      João Botelho

 

7. “Sou a favor, por exemplo, de todas as formas de prostituição, como profissão protegida pela lei e vigiada pela saúde pública. (…) desde sempre houve machos e fêmeas cujo único talento na vida, e cuja vocação definida, é emprestarem o próprio corpo. (…) As classes mais desprotegidas deviam ter a sua pornografia mais barata, subsidiada pelo Governo (…).”

 

a)   Jorge de Sena

b)   Mário Cesariny

c)   Cristina Espírito Santo

 

8. “Há muito poucas descrições de actos sexuais bem feitas em literatura. Uma delas é da Joan Collins… toda a gente acha que é uma péssima escritora… num livro que tenho ali: as duas primeira páginas são assombrosas, é a descrição de um ‘felatio’.”

 

a)      Margarida Rebelo Pinto

b)      Cláudio Ramos

c)      António Lobo Antunes

 

9. “Eu nasci para não fazer nada! E é engraçado: nunca me aborreci. Se pudesse passava a vida a ouvir música. (…) A música é como um mar de Deus.”

 

a)      Teresa Salgueiro

b)      Pedro Passos Coelho

c)      Eduardo Lourenço

 

10. “Portugal tem o feitio de um caixão. Será bom apenas para nele se morrer?”

 

a)      José Saramago

b)      Vergílio Ferreira

c)      Luiz Pacheco

 

 

SOLUÇÕES:

1 – c)     in Público, 16-09-2011 / 2 – a)    in Expresso.pt, 27-03-2013 / 3 – a)    in Público, 28-05-2013 (citado por José Vítor Malheiros) / 4 – c)    in Público- 2, 7-07-2013 / 5 – b)    in Expresso, 6-07-2 / 6 – b)    in Icon, Setembro/1999  / 7 – a)    in Visão, 18-11-1999 (citado por Fernando Dacosta) / 8 – c)    in Pública, 30-01-2000 / 9 – c)    in Pública, 25-05-2003 / 10 – b)  in Conta-Corrente III (citado por Pedro Rolo Duarte - Visão, 7-03-1996)   

SANGUE NO ASFALTO (MISTY)

Agosto 22, 2013

J.J. Faria Santos

                Gato reclinado na berma da estrada (courtesy of www.bertc.com)

 

Imaginem a luz em Agosto, a luz matinal acompanhada por um calor tépido. Um homem faz o percurso diário, a pé, que o separa do posto de trabalho. Atravessa as mesmas passadeiras para peões, revê os mesmos rostos nos mesmos lugares, escuta os sons da cidade a fervilhar (um fervilhar algo preguiçoso, não sei se por causa de Agosto se por causa da cidade). Saiu de casa com uma melodia na cabeça, que ouvira na rádio -  Misty , um tema da dupla Erroll Garner/Johnny Burke, que começa assim: Look at me / I’m as helpless as a kitten up a tree. A  meio do trajecto, na faixa de rodagem, perto da igreja e do cemitério, a escassos metros de uma passadeira (parece que o simbolismo ou a ironia se atropelam nesta cena), depara com o cadáver de um gato acidentado. O impacto da viatura fora tal que o fizera gastar as suas setes vidas e, para além de eviscerado, o animal tinha a cabeça separada do resto do corpo.

Os 244 ossos e os 512 músculos conferem ao gato a agilidade e a flexibilidade para trepar afoitamente, mas a descida torna-se problemática. Como as extremidades das unhas formam uma espécie de semicírculo para dentro, não lhe proporcionam um apoio infalível para descer de cabeça para baixo e ele retrai-se. Já a forma como atravessa a estrada, oscila entre a displicência da lentidão e a velocidade inopinada e suicidária. Podemos pensar numa variação inicial para Misty. Qualquer coisa como Look at me / I’m as helpless as a kitten crossing the street .

A POTÊNCIA RELUTANTE

Agosto 15, 2013

J.J. Faria Santos

Dois artigos recentes debruçaram-se sobre a magna questão do papel da Alemanha na condução dos destinos europeus. Timothy Garton Ash, um atento e estimulante analista das temáticas europeias, começa por se interrogar se o mais poderoso país da Europa será capaz de, em simultâneo, liderar a construção de “uma zona euro sustentável e internacionalmente competitiva e uma União Europeia forte e internacionalmente credível”, para concluir que a Alemanha não conseguirá por si só resolver os problemas da Europa e será, quando muito, um país “primeiro entre iguais” (artigo The New German Question em  The New York Review of Books). Já Rana Foroohar, jornalista da Time, escreveu num artigo sintomaticamente intitulado Why Germany Must Save the Euro  que, em última análise, só a Alemanha pode solucionar a crise europeia. De que forma? “Subscrevendo toda e qualquer reestruturação de dívida e os empréstimos necessários para manter unida a zona euro, ou alterando o seu modelo económico para permitir um rebalanceamento económico” face às condições internas dos outros países da União, ou mesmo uma combinação destas duas linhas de acção.

Por que razão parece a Alemanha tão pouco empenhada em conduzir os destinos do continente europeu? Garton Ash remete a explicação para a premissa essencial que esteve na origem do projecto do euro – “A união monetária europeia forjada durante e depois da reunificação alemã não foi um projecto alemão para dominar a Europa mas um projecto europeu para conter a Alemanha”.

Quer Garton Ash quer Foroohar realçam que a Alemanha tem sido a principal beneficiária da moeda única, designadamente através do acréscimo nas exportações intra e extracomunitárias. Apesar disso, como nota Garton Ash, “a retórica da política alemã permanece prepotentemente dogmática, com a política económica a soar frequentemente como um ramo da filosofia moral, senão mesmo da teologia protestante”. O autor recorda que Angela Merkel chegou a sugerir que os países endividados do Sul deveriam “expiar os pecados do passado”. Por outro lado, Rana Foroohar destaca que o enriquecimento alemão teve como contrapartida o endividamento dos restantes países, fomentado por uma política monetária de baixas taxas de juro caucionada pelos germânicos, concluindo que a “estratégia económica mercantilista da Alemanha desempenhou um papel mais preponderante na crise da dívida europeia” que o despesismo dos países sulistas.

Pode a receita alemã (uma economia competitiva assente no dinamismo das exportações) ser replicada pelos restantes países do euro? Garton Ash destaca uma curiosa analogia –  a Alemanha enquanto “campeã das exportações” tem sido descrita como a “China da Europa” – para evidenciar que nem todos os países podem ser como a China, pois não haveria quem adquirisse os produtos exportados. Rana Foroohar repete o argumento e acrescenta que “a ideia da Alemanha remodelar a Europa à sua imagem em termos fiscais é uma impossibilidade económica”, recordando que “a Alemanha enriqueceu porque enquanto praticava a austeridade os outros países gastaram livremente”.

Claro que nada disto permite dispensar a necessidade de orçamentos equilibrados, da reformulação dos sistemas de segurança social pressionados pela demografia e de promover a competitividade das economias europeias. Será, contudo, avisado recusar os modelos uniformizadores que ignoram as especificidades de cada país, minimizam irracionalmente o papel do Estado, ignoram a necessidade de regulação apertada do sistema financeiro e desvalorizam a própria democracia ao proporem terapias de sentido único.

Numa altura em que seria importante que alguém nos inspirasse a “acreditar de novo no sonho a que chamamos Europa”, Timothy Garton Ash lamenta as debilidades oratórias de Angela Merkel e de toda a classe política alemã que, segundo ele, “usa uma espécie de linguagem-lego sanitizada, compondo frases pré-fabricadas de plástico oco”. Já Rana Foroohar reconhece um mérito a Merkel: “A habilidade dela em ser simultaneamente uma alemã prudente e uma europeia generosa garantiu a coesão (held things together) – até agora”.

Independentemente da desconfiança alemã de que quando os outros países europeus lhe pedem liderança o que verdadeiramente querem é dinheiro, é a própria ministra do Trabalho alemã que realça a importância da União Europeia ao afirmar desassombradamente que “a Alemanha é forte por causa da Europa, e não apesar dela”. Quanto aos outros países da União, principalmente os mais afectados pela austeridade recessiva, poderão partilhar a visão política de Kennedy quando este afirmou “Ich bin ein Berliner”, mas em relação ao mix de políticas económicas defendidas pelos alemães deveriam dizer o que um ex-ministro português disse a propósito da localização de uma dada infraestrutura aeroportuária: “Jamais!”.

 

GILDA

Agosto 08, 2013

J.J. Faria Santos

                                             Rita Hayworth como Gilda

                                          (Courtesy of www.bertc.com)

                  

É um filme sobre pessoas que “nasceram no dia em que se conheceram”, isto é, que pretendem fazer uma espécie de reboot do sistema das suas vidas. Uma delas chega ao extremo de simular a própria morte, renascendo para a vingança, um pretexto menos nobre mas não menos legítimo para exercitar a faculdade da recriação.

Num casino em Buenos Aires, cujo dono é o sinistro Ballin Mundson, circulam irascíveis agentes alemães, polícias sibilinos, latin lovers, mulheres belas e fura-vidas à procura de oportunidades. Johnny Farrell é um desses cultores de um estilo de vida que junta o improviso ao culto da sorte. O prémio agridoce surge sob a forma de um convite para gerir o casino, para logo descobrir que a mulher de Mundson é a sua própria ex-mulher, Gilda.

A intriga secundária gira à volta do tungsténio, elemento químico também conhecido por volfrâmio, palavra com origem num termo alemão que significa devorador. O círculo fecha-se e regressamos a Gilda, pois o que é uma mulher fatal senão uma “devoradora de homens”?

O seu strip-tease minimalista enquanto interpreta Put the Blame on Mame  é o exemplo acabado da forma como, no território do erotismo,  o subtil poder da sugestão pode triunfar sobre a crueza da evidência.  O drama pessoal da actriz Rita Hayworth é que Gilda se tornou na pior das suas rivais – o protótipo da beleza feminina, a bandeira da insustentável perfeição quotidiana. Daí o célebre desabafo de Rita: “Os homens vão para a cama com Gilda, mas acordam comigo”. 

Nascida em Brooklyn, filha de um bailarino espanhol e de uma bailarina irlandesa, Rita Hayworth cumpriu o percurso habitual das aspirantes a actrizes na Hollywood da era clássica, incluindo a fase de upgrade  físico que implicou uma cura de emagrecimento e um tratamento electrolítico que fez desaparecer vários centímetros de cabelo da testa. No amor, terá seguido o conselho do croupier  do casino: “Place your bets, faites vos jeux”. Perdeu. É o que se depreende da frase “cinco casamentos, cinco erros”. Ironicamente, no final do filme, um improvável final feliz, percebe-se que por trás dos artifícios da sedutora impenitente está, afinal, o comum e tradicional desejo de felicidade conjugal.

Mas a derradeira ironia é que Hayworth acabou os seus dias vítima da doença de Alzheimer, alternando entre a lucidez e o alheamento, confundindo a vida real com as personagens que tinha interpretado, impotente perante o esvaimento da memória.

O CORAÇÃO DAS TREVAS

Agosto 01, 2013

J.J. Faria Santos

Quando pensamos na guerra, rapidamente nos ocorre a quantidade de atrocidades que se cometeram em nome dos mais nobres princípios, como a justiça ou a própria salvaguarda da dignidade humana. Apesar de toda a retórica associada a conceitos como “ataque cirúrgicos” e a formas de combate à distância com a utilização de drones, os grandes conflitos continuam a ser resolvidos com recurso a violentas demonstrações de poderio militar com o inevitável cortejo de danos colaterais. Ao nível micro, nos campos de batalha, é fácil perceber que o espírito de camaradagem e de entreajuda que se forma entre os combatentes pode, por força de danos psicológicos motivados pela visão do inominável,  muito facilmente redundar numa orgia de retaliação sem freios.  Do choque e pavor à dessensibilização vai um passo.  

Em Pássaros Amarelos  (Bertrand Editora, tradução de Ana Falcão Bastos), Kevin Powers escreve, na pele de um combatente no Iraque, “Só prestávamos atenção às coisas raras, e a morte não era rara”. E é porque os grandes decisores e os grandes estrategos militares, apesar de toda a parafernália tecnológica bélica, precisam de elevados contingentes de executores, de preferência altamente impressionáveis por valores como o patriotismo e com propensão para a obediência inequívoca a símbolos de autoridade,  que Powers escreve igualmente  que “as guerras também precisam de rapazes banais”.

A guerra é inevitável? Admitamos que sim. Mas o simples facto de que, como escreveu Hannah Arendt em 1969 (Reflections on violence) , “toda a violência contém em si um elemento de arbitrariedade; em nenhum lugar a Fortuna, a boa ou má sorte, desempenha um papel mais importante nos assuntos humanos do que no campo de batalha”, deveria ser um poderoso inibidor de tiradas grandiloquentes acerca das virtudes das grandes operações militares com nomes épicos. Arendt frisou o consenso entre os politólogos no que concerne à noção da violência ser “a mais flagrante manifestação de poder”. Notando que a violência “precisa de justificação e pode ser justificável”, a autora alertou para o facto dela perder “plausibilidade” à medida que se prolonga no tempo e, mais importante ainda, escreveu que “a violência pode sempre destruir o poder”. O que transforma o desencadear de qualquer acto de violência numa roleta russa.

 

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