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NO VAGAR DA PENUMBRA

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LITERATI

Novembro 01, 2012

J.J. Faria Santos

Um post de Mark O’Connell no blogue Page-Turner, disponível no site da New Yorker, faz um elogio rasgado a Gonçalo M. Tavares pela originalidade e universalidade do seu mundo ficcional. O blogger  considera que há uma “obscenidade estranha e emocionante” na forma como ele trata “as coisas como se fossem pessoas e as pessoas como se fossem coisas”. O’Connell vê na forma como a ficção do autor observa a humanidade um certo recolhimento, “ uma combinação de distância e precisão”. Escreve ele: “Tavares está interessado na forma como a história, seja através da barbárie ou do seu aparente contrário (o progresso científico), tem reduzido o homem ao estatuto de coisa”. Neste contexto, o blogger  nota a preocupação do escritor com os “mecanismos de controlo político” e com a consequência da acção destes, tornando as pessoas em mais uma peça da engrenagem. Mark O’Connell acha que Gonçalo M. Tavares “tem um dom – como Flann O’Brien, Kafka ou Beckett – para evidenciar de que forma a lógica pode ser uma serva tão fiel à loucura quanto à razão”.

 

Ana Teresa Pereira ganhou o Grande Prémio da APE com o romance O Lago. A deliberação, que não recolheu a unanimidade dos jurados, premeia uma autora que publica com regularidade histórias de mistério e inquietação, povoadas pelas suas obsessões literárias e cinematográficas. Não que seja relevante, mas sempre me pareceu intrigante o facto dos livros dela não treparem nos tops de venda. A qualidade da sua escrita nunca produziu um efeito de exclusão da acessibilidade, pelo que seria de esperar que alguém que constrói os seus livros como se fossem filmes ou peças de teatro lograsse despertar o interesse das massas, com as suas narrativas onde cenas que evocam os clássicos de Hollywood se combinam com paisagens góticas inglesas, a felicidade pode ser intensa mas é sempre precária, e o ameaçador se mistura com o fantástico e o fantasmagórico.

 

A vida é um jogo que queres vencer. É um jogo colectivo em que almejas o estatuto de craque. Propõem-te um esquema de treino e um plano de upgrade físico e psicológico. Mentalizas-te que só a repetição, a disciplina e o sacrifício te conduzirão à superação e, consequentemente, ao triunfo. Segues o mestre com afinco, admiração e, às vezes, contrariedade. Ambição e inquietação são as irmãs gémeas que te acompanham na busca da vitória. Sabes que tens de crescer, sabes que queres crescer, mas, e se falhas? Compreendes que a interrogação rasa a idiotia. A questão não é se falhas, é o que fazes depois de falhar. Que danos colaterais vais provocar quando ensaiares o teu reerguer? Que deves esperar de quem te amparou a queda (ou não) e te incitou a levantar do chão (ou não)? Como e quando estabelecer um compromisso entre a extensão da tua ambição e os limites, evidentes ou intuídos, dos resultados do teu esforço?

A Arte de Viver à Defesa,  promissora estreia literária de Chad Harbach, ensaia a resposta a estas e outras perguntas, sob a forma de um romance que mostra que mesmo com um plano, uma táctica ou uma estratégia, haverá sempre na vida um momento out of the box. Nessa altura, reinará o improviso, fortemente embebido numa dose de inconsciência, que é quase sempre a outra face da coragem.

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